quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Estratégia Top-Down e os Fundamentos da Análise de Crime.


Ao final da postagem segue o link de uma notícia de emprego do geoprocessamento na segurança pública do Amazonas. É um bom exemplo de onde poderemos chegar com a prática do uso do geoprocessamento e das análises espaciais de crimes e uma oportunidade para voltarmos a falar sobre a doutrina de análise criminal.

Há alguns anos falamos com pessoal do AM sobre análise criminal e a necessidade de projetos voltados para a implementação da análise espacial do crime nos órgãos policiais.
Alguns anos depois, com grata satisfação, chega ao nosso conhecimento que os colegas materializaram e implementam o projeto surgido de uma ideia inicial que cresceu , ganhou corpo e prosperou  com o apoio incondicional dos dirigentes, seguindo o que é previsto para projetos deste porte, que requerem obrigatoriamente uma mudança cultural e organizacional, uma estratégia e ações do tipo TOP-DOWN.
Ou seja, traçar estratégias e ações que devem iniciar no nível estratégico e seguir para o tático e operacional. Não apenas como discurso ou uma simples diretriz ou normativa, mas com ações efetivas, práticas, agindo, cumprindo, acreditando, reconhecendo a sua importância, com envolvimento e comprometimento de fato, enfim trabalhar pró-ativamente.

Claro que a informação de que os homicídios diminuíram em determinado mês devido ao projeto pode ser interpretada como prematura. A notícia veiculada no site não apresenta elementos para que possamos identificar uma tendência de curto, médio ou longo prazos, nem as variáveis que influenciaram tal tendência.
É desejável que se determine se tal redução deu-se realmente pela implementação do projeto ou por outros fatores, talvez até mesmo aleatórios, fora da ação direta dos órgãos de segurança. O processo de análise contínua vai demonstrar os resultados e deve avaliá-los diante das variáveis que certamente existirão ao longo do projeto.

Não resta dúvida de que é este o caminho. Um único homicídio evitado já compensa todo o investimento realizado. Duvida? Pergunte à família de uma vítima qual valor ela concordaria que os governos gastassem para ter evitado o assassinato de seu ente querido.

É importante neste momento salientar que implantar o geoprocessamento e mapear o crime é uma ação necessária, mas não deve ser a única. Ela é uma ferramente de um macro processo vital que é a gestão da informação e do conhecimento.

Para os colegas que não tiveram a oportunidade de aprofundar estudos na temática da análise criminal e do planejamento da segurança pública, convém salientar que o emprego científico, eficiente, eficaz e efetivo dos recursos operacionais de uma polícia passa, entre outras fases, obrigatoriamente: pela análise de atores envolvidos; entendimento do ambiente interno e externo da organização; definição dos problemas e a identificação de todas suas causas; proposição das melhores ações que agirão sobre as causas identificadas prevenindo ou contingenciando os problemas; e, tão importante quanto as demais, avaliação dos resultados obtidos para iniciar um processo de melhoria contínua.

No campo da criminalidade, violência e desordem a análise criminal é um processo científico reconhecido academicamente para gerar informações que se transformarão em conhecimento auxiliando o processo decisório na segurança pública nos níveis estratégico, tático e operacional da organização policial. Ressalta-se que não faço referencia aqui aos tipos de análise criminal apresentadas pela doutrina em geral como a análise criminal investigativa, preventiva e de operações, mas sim ao nível organizacional.

Para tanto, da síntese dos ensinamentos e práticas dos precursores Fielding, Quetelet, Guerry, Vollmer, Wilson e Hoover (só para citar alguns dos primeiros a abordarem a temática da análise de crime, sem esquecermos de nomes mais atuais como Boba, Clarke, Felson, Bruce, Souza, Dantas, Cohen, Brantingham, Wortley, Mazerolle, etc.)  é vital que três fundamentos estejam presentes:

1 - Disponibilidade de grandes volumes de dados criminais e sociais, devidamente processados e sistematizados;
2 - Possibilidade de uso de ferramentas tecnológicas de processamento e análise;
3 - Pessoas qualificadas tecnicamente e academicamente para o processo científico de análise do assunto abordado.

A análise geoespacial do crime é o resultado do emprego de uma das diversas ferramentas tecnológicas que a análise criminal utiliza. Aumenta substancialmente a capacidade e qualidade do processo de gestão da informação.

Porém, sem um banco de dados devidamente sistematizado, atendendo os requisitos de confidencialidade, integridade, disponibilidade, autenticidade e legalidade, tanto o geoprocessamento, como a análise de vínculos, mineração de dados e texto ficam prejudicadas ou até mesmo inviabilizadas.

No mesmo sentido, de nada adianta a existência deste banco de dados perfeito e a possibilidade de se utilizar as mais modernas tecnologias se não houver pessoas com capacidade de raciocínio lógico,  análise, síntese,  conhecimento científico sobre a temática em questão e treinadas no uso das tecnologias ao seu alcance, para mensurar não apenas quantitativamente, mas também qualitativamente os dados e as informações geradas, transformando-as em conhecimento passível de agregação de valor ao negócio.

Encerrando, é importante ressaltar que estes três fundamentos precisam, obrigatoriamente, de apoio do chamado "dono do negócio" e sua implementação deve ser TOP-DOWN em qualquer organização policial, buscando ganhar o apoio dos recursos humanos existentes para o conhecimento, envolvimento e, principalmente, o comprometimento com o novo processo científico da gestão policial a ser estabelecido.

Segue o link da matéria citada.
http://mundogeo.com/blog/2012/10/09/geotecnologia-reduz-criminalidade-em-cidades-do-amazonas/

Klepter Rosa Gonçalves
Brasília-DF, 10 de outubro de 2012.

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